terça-feira, 8 de novembro de 2022

Contribuições da Psicogênese para o aprimoramento dos métodos de avaliação

             São inúmeras as contribuições da Psicogênese para o aprimoramento dos métodos de avaliação aplicados nas escolas brasileiras. Algumas delas, vão de ideias bastante simples, mas que não podem ser ignoradas quando o assunto é alfabetização e letramento.

            No final da década de 1980, as classes da chamada 1ª série apresentavam reprovação de 50% dos alunos, evidenciando o fracasso dos métodos de ensino-aprendizagem aplicados até então. Tal alarmante número tornou necessária uma reformulação dos métodos de ensino, tomando como base a Teoria da Psicogênese da língua escrita – embora tal teoria não possa ser definida como método.

É através da Psicogênese que é observa a necessidade de superar o caráter tecnicista do processo de alfabetização, uma vez que a criança deve ser vista como alguém que pensa e reflexe acerca do processo na qual está inserida. A alfabetização, portanto, deve ser significativa para a criança, e isso só é possível através da constante contextualização, ou seja, a adequação do que se ensina com a realidade na qual a criança está inserida. Desta forma, faz-se necessário distinguir imagem de texto, uma vez que o texto não expressa a forma de um objeto, mas seu nome.

Sabe-se, porém, que muito equívocos e interpretações errôneas das teorias podem ser identificadas em diversas salas de aula do país. As razões para tais equívocos podem ser as mais variadas: má formação do profissional docente, a má remuneração que obriga o professor a ter diversos empregos, a impossibilidade de formação continuada etc. Todavia, os efeitos de tais equívocos podem gerar lacunas enormes no processo de alfabetização e letramento que poderão se arrastar por todo o Ensino Fundamental.

Não raro podemos encontrar professores que se consideram construtivistas, mas que, na prática, continuam se valendo de métodos tradicionais de ensino-aprendizagem. Isso se deve a uma má compreensão do que, de fato, é proposto pelo construtivismo. Vale reforçar mais uma vez que a má remuneração, que obriga o professor a trabalhar em diferentes lugares, acaba por gerar também planejamentos mal elaborados e, consequentemente, técnicas e métodos mal aplicados.

Tais raízes tradicionais continuam aparecendo nas escolas através do método silábico, que “pula” a fase pré-silábica, essencial para a estruturação do processo de alfabetização, uma vez que a criança não alfabetizada ainda não tem condições para compreender a silabação propriamente dita. Desta forma, o método tradicional nada mais faz do que ensinar a criança a codificar e/ou decodificar o que é falado e escrito. É preciso, portanto, compreender o que é lido, falado ou escrito. Todavia, vale ressaltar que o método silábico só é visto como prejudicial ou ineficaz quando a fase pré-silábica é ignorada no processo de alfabetização. Prova disso é o método Paulo Freire, reconhecido internacionalmente por sua eficácia no processo de alfabetização de jovens e adultos.

Os equívocos acima mencionados não poderiam ocorrer sem que sequelas fossem deixadas por onde passam ou passaram. A falta de domínio de tais teorias gera confusões como, por exemplo, a diferenciação entre alfabetização e letramento. Enquanto o primeiro se refere a um processo de desenvolvimento da capacidade de decodificação, que pode ser definida como a técnica do ler e escrever, o letramento está relacionado a capacidade de ler e entender a mensagem a transmitida, assim como escrever e se fazer entender, ou seja, atingir determinados objetivos a partir da leitura e/ou da escrita. É importante ressaltar, porém, que apesar de constituírem processos distintos, alfabetização e letramento devem ser tratados como indissociáveis, ou seja, devem sempre ser trabalhados de maneira conjunta. Para isso, deve-se utilizar textos que estejam de acordo com a realidade do aluno, abandonando o modelo de texto utilizados nas cartilhas, que tinham como objetivo a memorização de sílabas. A falta da devida atenção ao processo de alfabetização, que em alguns casos aparece diluído com o processo de letramento, é prejudicial e pouco eficaz, fazendo com que alunos concluam o ensino fundamental sem as devidas ferramentas linguísticas estruturadas.

A má compreensão das ideias construtivistas é um problema que leva profissionais da educação a formas mal estruturadas de ensino, como se o método propriamente dito fosse algo dispensável no processo de alfabetização. A construção coletiva do saber e o aluno como figura central do processo também precisa de metodologias que façam dessa participação uma forma de aprendizagem e não uma simples brincadeira, na qual o aluno acaba aprendendo “sem querer”.

Outro grande equívoco seria acreditar que os alunos podem aprender a escrever somente pelo fato de assistirem ao professor escrevendo no quadro. Essa é uma concepção ingênua de aprendizagem, uma vez que a complexidade entre o falar e o escrever é enorme e tais lacunas não podem sem preenchidas sem a participação efetiva do professor no processo de alfabetização.

Desta forma, pode-se observar que planejamento, melhor remuneração e formação continuada são ferramentas fundamentais para que tenhamos professores cada vez mais habilitados a lecionar em suas respectivas áreas, sem que equívocos pedagógicos interfiram no desenvolvimento de crianças, jovens e adultos em todas as regiões do país.

 

Henrique Pontes Ferreira Monteiro

Professor e Gestor Escolar

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