São inúmeras as contribuições da Psicogênese para o aprimoramento dos métodos de avaliação aplicados nas escolas brasileiras. Algumas delas, vão de ideias bastante simples, mas que não podem ser ignoradas quando o assunto é alfabetização e letramento.
É
através da Psicogênese que é observa a necessidade de superar o caráter
tecnicista do processo de alfabetização, uma vez que a criança deve ser vista
como alguém que pensa e reflexe acerca do processo na qual está inserida. A
alfabetização, portanto, deve ser significativa para a criança, e isso só é
possível através da constante contextualização, ou seja, a adequação do que se ensina
com a realidade na qual a criança está inserida. Desta forma, faz-se necessário
distinguir imagem de texto, uma vez que o texto não expressa a forma de um
objeto, mas seu nome.
Sabe-se,
porém, que muito equívocos e interpretações errôneas das teorias podem ser
identificadas em diversas salas de aula do país. As razões para tais equívocos
podem ser as mais variadas: má formação do profissional docente, a má
remuneração que obriga o professor a ter diversos empregos, a impossibilidade
de formação continuada etc. Todavia, os efeitos de tais equívocos podem gerar
lacunas enormes no processo de alfabetização e letramento que poderão se
arrastar por todo o Ensino Fundamental.
Não
raro podemos encontrar professores que se consideram construtivistas, mas que,
na prática, continuam se valendo de métodos tradicionais de
ensino-aprendizagem. Isso se deve a uma má compreensão do que, de fato, é
proposto pelo construtivismo. Vale reforçar mais uma vez que a má remuneração,
que obriga o professor a trabalhar em diferentes lugares, acaba por gerar
também planejamentos mal elaborados e, consequentemente, técnicas e métodos mal
aplicados.
Tais
raízes tradicionais continuam aparecendo nas escolas através do método
silábico, que “pula” a fase pré-silábica, essencial para a estruturação do
processo de alfabetização, uma vez que a criança não alfabetizada ainda não tem
condições para compreender a silabação propriamente dita. Desta forma, o método
tradicional nada mais faz do que ensinar a criança a codificar e/ou decodificar
o que é falado e escrito. É preciso, portanto, compreender o que é lido, falado
ou escrito. Todavia, vale ressaltar que
o método silábico só é visto como prejudicial ou ineficaz quando a fase
pré-silábica é ignorada no processo de alfabetização. Prova disso é o método
Paulo Freire, reconhecido internacionalmente por sua eficácia no processo de
alfabetização de jovens e adultos.
Os equívocos acima mencionados não
poderiam ocorrer sem que sequelas fossem deixadas por onde passam ou passaram.
A falta de domínio de tais teorias gera confusões como, por exemplo, a
diferenciação entre alfabetização e letramento. Enquanto o primeiro se refere a
um processo de desenvolvimento da capacidade de decodificação, que pode ser
definida como a técnica do ler e escrever, o letramento está relacionado a capacidade
de ler e entender a mensagem a transmitida, assim como escrever e se fazer
entender, ou seja, atingir determinados objetivos a partir da leitura e/ou da
escrita. É importante ressaltar, porém, que apesar de constituírem processos
distintos, alfabetização e letramento devem ser tratados como indissociáveis,
ou seja, devem sempre ser trabalhados de maneira conjunta. Para isso, deve-se
utilizar textos que estejam de acordo com a realidade do aluno, abandonando o
modelo de texto utilizados nas cartilhas, que tinham como objetivo a
memorização de sílabas. A falta da devida atenção ao processo de alfabetização,
que em alguns casos aparece diluído com o processo de letramento, é prejudicial
e pouco eficaz, fazendo com que alunos concluam o ensino fundamental sem as
devidas ferramentas linguísticas estruturadas.
A má compreensão das
ideias construtivistas é um problema que leva profissionais da educação a
formas mal estruturadas de ensino, como se o método propriamente dito fosse
algo dispensável no processo de alfabetização. A construção coletiva do saber e
o aluno como figura central do processo também precisa de metodologias que
façam dessa participação uma forma de aprendizagem e não uma simples
brincadeira, na qual o aluno acaba aprendendo “sem querer”.
Outro
grande equívoco seria acreditar que os alunos podem aprender a escrever somente
pelo fato de assistirem ao professor escrevendo no quadro. Essa é uma concepção
ingênua de aprendizagem, uma vez que a complexidade entre o falar e o escrever
é enorme e tais lacunas não podem sem preenchidas sem a participação efetiva do
professor no processo de alfabetização.
Desta
forma, pode-se observar que planejamento, melhor remuneração e formação
continuada são ferramentas fundamentais para que tenhamos professores cada vez
mais habilitados a lecionar em suas respectivas áreas, sem que equívocos
pedagógicos interfiram no desenvolvimento de crianças, jovens e adultos em
todas as regiões do país.
Professor e Gestor Escolar
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